“Nunca deixo nada por dizer, porque acho que só assim é que podemos formar bons profissionais!”

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Maria de Lurdes Veiga Kraemer é técnica de prótese dentária e criou o Laboratório Dentes e Tudo, com o marido. Numa conversa com a LabPro, Maria Kraemer falou sobre a criação do laboratório, da formação à qual também se dedica e da dificuldade de afirmação da prótese removível.

Além de partilhar vida, partilha a profissão com o seu marido e têm em conjunto o laboratório ‘Dentes e Tudo’. Quando “nasceu” este laboratório?

É verdade! Este laboratório nasceu em consequência de um outro, que fechamos, porque em determinada altura, em 2012/2013, o Peter dedicou-se mais à área dos scanners e ExoCad e deixou o laboratório. Eu dediquei-me mais à formação e não fazia sentido termos um laboratório aberto que não funcionava. A ‘Dentes e Tudo’ nasceu para me dar apoio à formação e para poder fazer um ou outro trabalho, para preparar os modelos e tudo o que é necessário para a formação. A partir daí, em 2017, o Peter decidiu deixar as viagens e voltar a trabalhar comigo para e com os dentistas. Ele na prótese fixa, e eu na implanto-suportada, mas também sempre na área da removível, muco-suportada.

Quantas pessoas trabalham na Dentes e Tudo?

Só nós os dois porque, entretanto, já é tempo de parar um pouco e não avançar com grandes projetos. Acho que vamos manter isto assim, os dois. Eu continuando com a formação também, que é o que eu gosto muito de fazer, porque adoro ensinar, nunca deixo nada por dizer.

Nunca deixa nada por dizer… Não guarda nenhum segredo para si?

Não! Eu nunca deixo nada por dizer, porque eu acho que só assim é que nós podemos formar bons profissionais! Nós temos que ensinar tudo, porque eu um dia destes deixo a formação e gostava de deixar alguém a dar seguimento ao que eu faço. Gosto de ensinar tudo, tudo mesmo o que eu sei, aqueles truques que a gente faz, os produtos que usa e as técnicas. Não mantenho nada para mim, não retenho nada! Eu acho que na área da formação não pode haver segredos. Eu digo sempre tudo, para que as pessoas que assistem à minha formação possam adquirir o máximo de conhecimento e prática. E eu vejo isso um pouco na formação dos nossos jovens, que estão na minha formação e dizem: “nós não fazíamos assim na faculdade”. Todos nós temos um método diferente de ensinar, mas eu defendo que na formação não devemos ter segredos.

Falando agora da parceria com os dentistas. Os dentistas e os protésicos têm que estar em sintonia para que o trabalho funcione?

Sim, sem dúvida que sim! O nosso trabalho pode não funcionar se os moldes não tiverem sido retirados de forma correta. Aliás, o Max Bosshart quando veio a Portugal dar uma formação, que foi muito interessante para protésicos e para dentistas, ele ensinou a fazer as impressões e toma de mordidas. O curso foi baseado num caso real, onde se arranjou um paciente, se tiraram os moldes e se fez o trabalho de início ao fim. Com isto, o que quero dizer é que, sem dúvida que tem que haver sintonia entre dentista e protésico para que o resultado final seja um paciente feliz.

Seria de apostar, então, em mais formações com protésicos e dentistas?

Sim! O que é muito difícil de conseguir, mas que seria o meu desejo. Haver mais formações em conjunto na área da toma de impressões, que eu acho fundamental para conseguirmos fazer uma prótese muco-suportada com a qual o paciente possa ter qualidade de vida. Nem toda a gente pode pagar implantes, é tudo uma questão financeira, e muitos dos pacientes nós podíamos resolver a situação com uma prótese bem-adaptada.

Nós hoje temos uma geração de protésicos muito bons e que já têm uma relação muito aberta com os dentistas. Eu acho que nós hoje já estamos melhor do que em 1996 quando abri o laboratório. Foi muito difícil nós adaptarmo-nos aqui, porque na Alemanha, os dentistas estavam à mesma altura que nós e aqui ainda não tínhamos essa abertura. Hoje, eu acho que os nossos colegas protésicos trabalham já muito bem com os dentistas e saem parcerias muito boas, muito bons trabalhos. Estou convicta que sim, aliás eu estou em Espanha e dizem-me: “vocês em Portugal estão muito bem. A prótese em Portugal está muito boa, vocês têm muito bons protésicos!”, oiço muitas vezes isso! Nós estamos muito bem conotados lá fora, mas sempre na prótese fixa e aí é onde eu quero apostar mais e devíamos apostar mais, na área da removível, com formações, formações e formações, porque isso é a base.

Dizia-me no início que a prótese removível é o patinho feio da prótese dentária. Quer explicar-nos porquê?

Nós dizemos sempre que a prótese removível é o patinho feio da prótese dentária, porque: é o mais sujo, mais trabalhoso, chega a ser muito complicado fazer a toma de mordidas e acaba por ser, também, o mais barato. No entanto, é uma parte fundamental da prótese! Por isso, ninguém a quer fazer e todos querem ser “ceramistas”, ou trabalhar no Cad-Cam.


Entrevista na íntegra na LabPro 43.

28 Setembro 2021
EntrevistasPrótese dentária

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